Ritos de iniciação e a construção do homem e da mulher na actualidade: realidade de distrito de lalaua
Ritos de iniciação e a construção do homem e da mulher na actualidade: uma análise da realidade na comunidade de distrito de lalaua
Conceitos
Os ritos de iniciação tradicionais são práticas culturais profundamente enraizadas na comunidade, desempenhando um papel crucial na definição da identidade de género. Esta pesquisa multidisciplinar visa investigar e analisar a relevância desses rituais, tanto historicamente quanto em contextos contemporâneos, buscando compreender suas origens e impactos. Ao examinar a percepção actual da comunidade sobre esses ritos, pretende-se identificar as transformações e adaptações ao longo do tempo e seu efeito na construção da identidade de género.
Origem dos ritos de iniciação na comunidade de Lalaua
Os
ritos de iniciação tradicionais em Lalaua têm raízes profundas na cultura
local, sendo práticas passadas de geração em geração. São cerimónias que marcam
a transição da adolescência para a vida adulta e desempenham um papel
fundamental na comunidade. Esses ritos visam não apenas a integração dos
jovens, mas também a preservação das tradições e valores ancestrais
De
acordo com o regulo NVAHA, (2024), diz que desde a época dos nómadas em Lalaua
praticava-se os ritos de iniciação em que na altura nos homens usava-se métodos
tradicionais de corte de prepúcio. “Meus avos usavam facas afiadas para o corte
de prepúcio em relação este tempo em que tudo acontece nos hospitais”. Segundo
o líder NVAHA, o processo actual é muitíssimo diferente do passado. As mulheres
só ficam 3 dias no máximo no nosso tempo elas passavam 3 meses na mata
aprendendo com as anciãs tudo que era necessário para a vida futura que ela
teria a partir dos papeis de mulheres na comunidade. ( NVAHA, 2024)
Estes rituais passaram por transformações, adaptando-se às novas realidades da sociedade, mas mantendo a essência de marcar a transição para a vida adulta e transmitir valores importantes para a comunidade.
Origens e História dos Ritos de Iniciação
A
origem dos ritos de iniciação em Lalaua remonta a tempos antigos, relacionados
com crenças religiosas, costumes e práticas culturais do povo local. A história
desses rituais está intrinsecamente ligada à identidade da comunidade, reflectindo
a conexão com a terra, os antepassados e a espiritualidade que permeia a vida
dos moradores de Lalaua.
Como
dito anteriormente pelo régulo NVAHA, os ritos de iniciação tem um papel muito
profundo nas comunidades de Lalaua razão pela qual até hoje esses rituais são
praticados pese embora por razoes da globalidade os ensinamentos não são
taxativamente como no passado.
Significados e Simbolismos
Com forme ARMANDO (2023), os ritos de iniciação no geral carregam diversos significados e simbolismos, representando a passagem para a vida adulta, a responsabilidade, a sabedoria e a integração na sociedade.
Cada elemento
presente nessas cerimónias possui um significado profundo, contribuindo para a
formação da identidade individual e colectiva dos participantes.
O líder NVAHA, diz que os ritos de iniciação em nenhum momento devem ser ignorados pela comunidade de Lalaua, pois este acto tanto nas mulheres assim como nos rapazes simboliza o crescimento, maturidade.
Um rapaz ou uma menina que não foi aos ritos de iniciação ainda não cresceu, não atingiu maturidade, pelo que ela pode ser vedada ou vedado em participar em algumas actividades, por exemplo para participar nos rituais fúnebres desde a lavagem do corpo até o enterro cá em Lalaua exigimos que você tenha passado antes nos ritos de iniciação, pois você aina não cresceu. É de la onde nós ensinamos a maneira correcta de lavar um corpo, e enterrar o corpo, como cuidar de um doente em agonia, entre outras lições. Aquilo que não se ensina na escola aproveitamos incrementar lá por vezes até os conteúdos da escola que actualmente fazem parte do currículo local são transmitidos primeiro nos ritos de iniciação. NVAHA (2024)
Influências na Construção da Identidade de Género
Os
ritos de iniciação tradicionais em Lalaua desempenham um papel crucial na
construção da identidade de género, estabelecendo padrões, papéis e expectativas
para homens e mulheres na comunidade. Essas práticas moldam a percepção que os
indivíduos têm de si mesmos e do seu lugar na sociedade, influenciando
directamente na construção da identidade de género. (Julião, 2023)
NVAHA,
acredita que HOMEM verdadeiro nas comunidades do distrito de Lalaua é aquele
que já passou pelos ritos de iniciação. Os ritos de iniciação na óptica do
líder são meios de preparação para encarrar as adversidades futuras, para alem
de ser uma cultura e algo que nos identifica.
Os
ritos de iniciação exercem um impacto significativo na construção da identidade
de género na comunidade de Lalaua, influenciando a forma como os indivíduos se
percebem e são percebidos em relação ao género. Através dos rituais, são
transmitidos valores, normas e papéis de género que moldam a identidade dos
participantes. Essa construção identitária baseada nos ritos de iniciação
contribui para a manutenção da diversidade e riqueza cultural da comunidade,
fortalecendo os laços entre seus membros e promovendo a auto-aceitação e o
respeito mútuo. (Armando, 2023)
Percepção actual da Comunidade de Lalaua sobre os Ritos de Iniciação
A comunidade de Lalaua ainda atribui grande valor aos ritos de iniciação, considerando-os parte integrante e indispensável de sua identidade cultural. Estas tradições e rituais são cuidadosamente transmitidos de uma geração para outra, sendo encarados pelos membros da comunidade como um instrumento de consolidação dos laços comunitários e de preservação da história e das crenças ancestrais.
Adicionalmente, os ritos de iniciação são encarados
como uma valiosa oportunidade de crescimento e aprendizagem pessoal para os
jovens participantes, contribuindo significativamente para a construção de sua
identidade (Armando, 2023).
O líder NVAHA, diz que os ritos de iniciação ainda são praticados principalmente nas comunidades não escolarizadas do distrito, uns e outros que vivem na sede da vila do distrito é que não mandam seus filhos e filhas nos ritos.
Contudo é preciso frisar a qualidade dos ensinamentos não é
a mesma do passado, por lado porque os ancião os ditos em dialecto HUMUS, já
não existem poucos dos que temos são idosos demais para participar e os jovens
não querem ficar com as doutrinas os manuais orais dos antepassados.
Com o passar do tempo, os protocolos de entrada em
Lalaua passaram por adaptações e ajustes com o objectivo de se adequarem à
realidade e às demandas da comunidade actual. Houve uma actualização em certos
aspectos dos rituais, porém mantendo a essência e os princípios tradicionais.
Essas mudanças têm como finalidade garantir a continuidade dos cerimoniais de
entrada, preservando sua importância e significado para as futuras gerações, ao
mesmo tempo em que se adequam às necessidades da sociedade contemporânea. O tempo
de permanência no NVERANI (acampamentos de jovens nos ritos de iniciação) já
diminuiu em relação ao muito tempo que independentemente dos ferimentos curarem
os rapazes permaneciam por lá durante 3 meses. Agora tudo depende dos
ferimentos não da meta dos ensinamentos, basta as feridas sararem já está, eles
regressam para casa neste caso realizam-se os últimos rituais chamados por “Saída.”
“ No meu tempo você só sairia apos
aprender tudo que era necessário para a vida, desde caça, cozinhar, procurar
boa lenha, como cuidar da família entre outras actividades.”
O Impacto dos Ritos de Iniciação na Construção da Identidade de Género
A conexão entre identidade de género e cerimónias de iniciação pode apresentar nuances complexas e diversas, que variam de acordo com o ambiente social, cultural e psicológico em que tais rituais se inserem.
A
maneira como um ritual de transição é conduzido e os princípios que ele
simboliza exercem uma influência significativa na formação da identidade de
género. Torna-se crucial a análise da utilização desses rituais para reforçar
padrões de género ou para fomentar uma maior diversidade e inclusão de
identidades de género não convencionais, contribuindo, assim, para uma
compreensão mais aprofundada da relação entre identidade de género e cerimónias
de iniciação. (Ferreira & Pereira, 2021)
A relação entre identidade de género e ritos de
iniciação é fundamental para compreender como esses rituais impactam na
formação da identidade de género. Os ritos de iniciação podem reforçar
estereótipos de género, perpetuando padrões sociais preestabelecidos, ou então
desafiar essas normas, possibilitando uma maior liberdade na construção da
identidade de género. É importante analisar como esses rituais são utilizados
para reforçar ou questionar concepções tradicionais de masculinidade e
feminilidade, influenciando directamente na maneira como os indivíduos se
percebem e se relacionam com o próprio género. (Binze, 2022)
Socialmente os rituais de iniciação exercem um papel vital na transmissão de valores, normas e códigos culturais, contribuindo para a coesão social e a manutenção da ordem.
Além disso, tais cerimónias frequentemente reflectem e fortalecem as hierarquias e estruturas de poder presentes na comunidade, impactando de maneira significativa na formação da identidade de género dos indivíduos. (SILVA, 2020)
O papel dos ritos de iniciação na sociedade é
multifacetado, podendo variar de acordo com o contexto cultural e histórico.
Essas práticas têm a função de marcar a transição de um status para outro, seja
da infância para a idade adulta, do desconhecido para o conhecido, ou até mesmo
de um género para outro. Os rituais de iniciação atuam como mecanismos de
inclusão e exclusão, estabelecendo quem faz parte do grupo social e quem está
fora, influenciando directamente na construção da identidade de género dos
sujeitos envolvidos.
É essencial considerar a influência de crenças,
valores e tradições específicas de cada cultura na realização dos ritos de
passagem, destacando como tais práticas reflectem a visão de género e o papel
atribuído a homens e mulheres na sociedade.
O impacto dos ritos de iniciação na formação da identidade é profundo e duradouro, podendo influenciar directamente na construção da identidade de género dos indivíduos. Esses rituais podem reforçar estereótipos de género preestabelecidos pela sociedade, promover a internalização de normas de masculinidade e feminilidade, gerar conflitos internos e externos relacionados à identidade de género e contribuir para a auto-aceitação ou negação das características individuais.
Dessa forma, os
ritos de iniciação exercem um papel fundamental na moldagem da identidade de
género dos participantes, impactando sua auto-imagem e posicionamento na
comunidade.
O Papel dos Ritos de Iniciação na Sociedade Contemporânea
Os rituais de iniciação desempenham diversas funções na sociedade contemporânea, sendo cruciais para a integração e socialização dos indivíduos. Através dessas cerimónias, as pessoas são introduzidas em diferentes grupos e comunidades, fortalecendo os laços sociais e promovendo a coesão entre os membros.
Ademais, os ritos de iniciação permitem a transmissão
de valores, normas e conhecimentos específicos, contribuindo para a formação da
identidade individual e colectiva dos participantes. (Mergulhão, 2020)
A socialização e integração são aspectos essenciais das funções dos ritos de iniciação na sociedade contemporânea. Por meio desses rituais, os indivíduos são inseridos em novos contextos sociais, aprendendo a interagir e se relacionar com outros membros do grupo.
Assim, os ritos de iniciação proporcionam a oportunidade de desenvolver habilidades sociais, fortalecer a identidade colectiva e promover a coesão entre os participantes, contribuindo para a construção de uma sociedade mais solidária e integrada. A transmissão de conhecimentos e valores é uma função crucial dos ritos de iniciação na sociedade contemporânea.
Por meio desses rituais, são transmitidos
às novas gerações os saberes tradicionais, normas éticas, crenças e princípios
que sustentam a cultura e a identidade do grupo. Dessa forma, os ritos de
iniciação atuam como mecanismos de preservação e perpetuação do património
cultural, contribuindo para a transmissão intergeracional de conhecimentos e
fortalecendo a coesão social. (Mergulhão, 2020)
A relevância dos ritos de iniciação na actualidade reside no seu potencial de promover a integração social e a transmissão de valores em um contexto em constante transformação. Através desses rituais, é possível reforçar a identidade individual e colectiva, proporcionando um senso de pertencimento e continuidade cultural.
Além disso, os ritos de iniciação
podem contribuir para a construção de relações comunitárias mais solidárias e
empáticas, em sintonia com as demandas atuais por uma sociedade mais inclusiva
e diversificada. (Mergulhão, 2020)
Os desafios e adaptações dos ritos de iniciação na sociedade contemporânea estão intrinsecamente relacionados às mudanças nos padrões culturais, sociais e tecnológicos. É crucial repensar esses rituais para torná-los relevantes e significativos para as novas gerações, equilibrando a preservação das tradições com a necessidade de inovação.
A diversidade de
identidades de género e a busca por equidade também exigem uma abordagem mais
inclusiva nos ritos de iniciação, promovendo a aceitação da pluralidade de
formas de ser e viver. (Mergulhão, 2020)
Propostas de reflexões e directrizes para a valorização, respeito e preservação dos ritos de iniciação na comunidade
Os cerimoniais de entrada exercem um papel crítico na coesão e na integração da comunidade, transmitindo valores, tradições e conhecimentos de uma geração para a seguinte. Eles reforçam os laços sociais e culturais, conferindo um sentimento de pertencimento e identidade aos integrantes.
Adicionalmente, os cerimoniais de entrada auxiliam na marcação de
momentos significativos na vida das pessoas, como a transição da infância para
a idade adulta, auxiliando no desenvolvimento emocional e psicológico dos
participantes.
Os ritos de iniciação têm raízes profundas na cultura e história de diversas comunidades ao redor do mundo, reflectindo crenças, valores e práticas tradicionais. Eles são marcados por simbolismos e rituais específicos que expressam a cosmovisão e a identidade cultural de cada grupo.
Ao longo dos séculos, os ritos de iniciação têm desempenhado um papel
essencial na preservação e transmissão do património cultural, contribuindo
para a continuidade e resiliência das tradições.
É fundamental incentivar a participação activa da comunidade por meio de educação e sensibilização, promovendo a compreensão e o respeito pelos ritos de iniciação.
Além disso, é essencial envolver líderes
comunitários e instituições locais para garantir a continuidade e relevância
desses rituais na sociedade contemporânea.
2.8.1. Educação e sensibilização comunitária
Na minha maneira de pensar as comunidades, os líderes
comunitários e a sociedade civil, deveriam através de programas educacionais e
de sensibilização comunitária, de modo a fortalecer a importância dos ritos de
iniciação, incentivando a reflexão sobre sua relevância cultural e identitária.
As escolas deveriam participar mediante as palestras
que incentivam a prática dos ritos de iniciação. Dessa forma, a educação e
sensibilização comunitária desempenhariam um papel crucial na preservação e
respeito pelos ritos de iniciação, contribuindo para a construção de uma
sociedade mais inclusiva e culturalmente rica.
Legislação e políticas públicas de protecção aos ritos de iniciação
Eu acho que no contexto da promoção dos direitos culturais, várias legislações e políticas públicas têm sido deveriam ser implementadas para proteger os ritos de iniciação nas comunidades.
Através de leis e
regulamentações específicas, seria a garantia certa da preservação e o respeito
por essas práticas tradicionais, reconhecendo sua importância para a identidade
cultural e de género das populações envolvidas.
Inclusão dos ritos no currículo escolar
Tecendo o meu ponto de vista a inclusão dos ritos de iniciação no currículo escolar é uma estratégia eficaz para garantir que essas práticas tradicionais sejam valorizadas e respeitadas pelas novas gerações.
Através de disciplinas específicas ou projectos interdisciplinares, os alunos podem aprender sobre a história, simbologia e importância dos ritos de iniciação dentro de suas culturas.
Dessa forma, a escola se torna um espaço de reflexão e diálogo, onde os estudantes podem compreender melhor a relevância dessas cerimónias para a construção da identidade cultural e de género, contribuindo assim para a preservação e continuidade dessas práticas comunitárias.
3. CONCLUSÃO
Diante da análise sobre o papel dos ritos de iniciação na sociedade contemporânea, compreende-se a importância desses rituais na construção da identidade de género.
Os ritos de iniciação ainda desempenham um papel fundamental na socialização e integração dos indivíduos, transmitindo conhecimentos e valores essenciais para a formação de identidades de género. Apesar dos desafios e adaptações enfrentados, os ritos de iniciação permanecem relevantes na actualidade, influenciando a maneira como os indivíduos se percebem e são percebidos dentro da sociedade.
Ainda reforça-se a importância de valorizar, respeitar e preservar os ritos de iniciação na comunidade como forma de fortalecer a identidade cultural e de género.
Recomenda-se a promoção de diálogos interrelacionais, a inclusão de mulheres em processos tradicionalmente masculinos e o engajamento de lideranças locais. Além disso, é essencial desconstruir estereótipos e preconceitos, promover a igualdade de género nos ritos de iniciação e compartilhar estudos de caso de boas práticas para inspirar outras comunidades na valorização dessas tradições tão significativas.
REFERENCIA:
Binze, A. D. (2022). Práticas culturais e
escolarização de mulheres em Moçambique: um caminho para ressignificação dos
ritos de Iniciação. usp.br
Ferreira, L. C. & Pereira, L. J. A. (2021).
Tensões e tradições na alfabetização e educação de adultos das raparigas
moçambicanas. Sankofa (São Paulo). usp.br
Silva, D. B. S. (2020). Rituais e actos pedagógicos
performáticos da Jurema Sagrada do terreiro de umbanda em Alhandra-PB. ufpe.br
Mergulhão, B. R. V. (2020). O silêncio que fala: os
ritos fúnebres como performance e o cemitério como lugar de memória. iscte-iul.pt
NVAHA, líder comunitário. (2024). Entrevista conduzida por: Evaristo Alves. Lalaua.
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