A nova concepção da história a partir da segunda metade do século XX
A segunda metade do século XX foi um período de profundas transformações na historiografia, que levaram a uma nova concepção da história. Essas transformações foram impulsionadas por uma série de factores, incluindo:
O desenvolvimento de novas tecnologias, que permitiram o acesso a um grande volume de fontes históricas.
A crise da modernidade, que levou à relativização dos valores e do conhecimento.
O surgimento de novos movimentos sociais, que exigiram uma nova abordagem da história.
2.1. As principais características da nova
concepção da história
A ênfase no contexto: a história é
vista como um processo social, que é moldado por uma série de factores,
incluindo económicos, políticos, sociais e culturais.
A interdisciplinaridade: a história
é vista como uma ciência social, que se relaciona com outras áreas do
conhecimento, como a sociologia, a economia e a antropologia.
A perspectiva crítica: a história é
vista como uma construção social, que é moldada pelas categorias e valores de
uma determinada época.
A nova concepção da história teve um
impacto significativo na forma como a história é escrita e ensinada. Ela levou
ao surgimento de novos temas e abordagens, que enriqueceram o conhecimento
histórico.
A seguir, são apresentados alguns exemplos de novos temas e abordagens que surgiram a partir da segunda metade do século XX:
A história social: a história social busca compreender as relações sociais e as condições de vida das pessoas comuns.
A história cultural: a história cultural busca compreender as manifestações culturais, como a arte, a literatura e a religião.
A história de género: a história de género busca compreender as relações entre homens e mulheres ao longo do tempo.
A história ambiental: a história
ambiental busca compreender a relação entre a sociedade humana e o meio
ambiente.
A nova concepção da história ainda
está em desenvolvimento, mas ela já contribuiu para uma compreensão mais
complexa e abrangente do passado.
2.2. A crise da História no tempo
A crise da história do século XX O
Século XX foi um século permeado por guerras, em todas as suas décadas, mas as
duas guerras mundiais marcaram-no profundamente.
Apesar do aparecimento de outras
ciências sociais, a História continuava a mãe e dona do conhecimento humano.
Portanto, o retracto dos factos políticos e diplomáticos, faziam da História o
domínio favorito dos dirigentes. Este estatuto privilegiado da História sofreu
embates e críticas que se aprofundaram nas primeiras décadas do século XX.
A crise da
história é um tema recorrente na historiografia, que tem sido abordado por
diferentes autores e perspectivas. Uma referência bibliográfica que sustenta o
assunto é o livro "Crítica e crise: uma contribuição à patogênese do mundo
burguês", de Reinhart Koselleck.
No livro,
Koselleck analisa a crise da história como um fenômeno que se manifesta no
mundo moderno, a partir do século XVIII. Ele argumenta que a crise da história
é resultado de uma série de fatores, incluindo:
A ruptura
entre passado, presente e futuro: a modernização do mundo levou a uma
ruptura entre as temporalidades do passado, do presente e do futuro. O passado
passou a ser visto como uma época diferente e irreversível, o presente passou a
ser visto como um momento de transição e o futuro passou a ser visto como uma
época de possibilidades.
A crescente
complexidade do mundo: o mundo moderno tornou-se cada vez mais complexo,
dificultando a compreensão do passado e a previsão do futuro.
A
relativização dos valores: a modernização do mundo levou à relativização
dos valores, o que dificultou a definição de uma narrativa histórica coerente.
Koselleck argumenta que a crise da história tem consequências significativas para a sociedade, pois dificulta a compreensão do passado e a construção de um futuro melhor.
2.3. A Nova Concepção da Historia a partir da
segunda Metade do século XX
Outra
referência bibliográfica que sustenta o assunto é o livro "A história
entre tempos: François Hartog e a conjuntura historiográfica
contemporânea", de Fernando Felizardo Nicolazzi.
No livro,
Nicolazzi analisa a obra do historiador francês François Hartog, que também
aborda a crise da história. Hartog argumenta que a crise da história é
resultado da crise da modernidade. Ele defende que a história é uma construção
social, que é moldada pelas categorias e valores de uma determinada época.
Nicolazi
argumenta que a obra de Hartog contribui para a compreensão da crise da história,
pois oferece uma perspectiva crítica sobre o conceito de história.
A crise da
história é um tema complexo e multifacetado, que tem sido abordado por
diferentes autores e perspectivas. As referências bibliográficas apresentadas
oferecem uma visão geral do assunto e contribuem para a compreensão das suas
causas e consequências.
2.4. Principais causas da Crise da história
Crítica feita por novas correntes
historiográficas á História tradicional (positivista): no século XIX, Marx e
Engels trouxeram uma concepção materialista da História, onde acentuam o papel
das massas e não dos indivíduos, a importância estrutural e da longa duração em
detrimento dos aspectos factuais e particulares, a preferência pelo estudo das
economias e sociedades em lugar dos habituais aspectos políticos, a
descontinuidade do processo histórico a subsistir a tradicional linearidade, o
papel da luta de classes na transformação da sociedade humana.
Em 1903, François Simiand economista e sociólogo denunciou os
três ídolos da tribo dos historiadores: o ídolo político que leva a dar aos
factos políticos, as guerras; o ídolo individual ou seja, o hábito de ordenar
as pesquisas em torno de um indivíduo e não os fenómenos sociais e o ídolo
cronológico, o hábito de se perderem no estudo das origens do passado.
O surgimento do estruturalismo que afirma que o facto
histórico nada vale fora do contexto em que está integrado. Assim, alterou o
conceito do Homem e com ele, o da própria História.
A evolução científica da época, sobretudo das ciências ditas
naturais, fez alterar pouco a pouco o conceito de Ciência e a própria atitude
dos cientistas frente a ciência. A rápida evolução, os conhecimentos
científicos que passaram a se renovar constantemente. O saber deixa de ser um
saber feito, acabado para se encontrar continuamente em mudança como os homens.
A emergência de outras ciências sociais e humanas na segunda metade do século XIX, onde a História perde o exclusivo do conhecimento do Humano, pela individualização e a institucionalização como ciências de uma série de novos campos de análise e compreensão dos fenómenos sociais e humanos.
Entre as ciências surgidas pode-se mencionar a sociologia, Geografia Humana,
psicologia, Antropologia Social e Cultural e a Etnografia
A crescente importância destas
ciências que repartem entre si o mesmo objecto de estudo antes integral e
exclusivamente atribuído á História, veio colocar aos historiadores três novos
problemas:
1. O da definição e delimitação
do conteúdo específico da História;
2. O da reformulação da sua
função objectiva nas sociedades modernas;
3. E ainda o da metodologia.
2.5. As manifestações da crise da História
O
impacto das novas condições históricas resultantes da primeira e segunda Guerra
Mundial, contribuíram para a reformulação da ciência histórica, visto que os
princípios da História tradicional eram incapazes de explicar as repercussões
dos conflitos mundiais.
Esta
crise significou para a História a perca da autonomia do objecto de estudo
(Homem) antes exclusivo à História. Constituiu uma série de humilhações tendo
contudo perdido a sua credibilidade. Esta crise teve como essência a disputa do
Homem como objecto de estudo das ciências em referências.
O
capitalismo passa pela sua primeira grande crise de superprodução entre
1873-1895. Mas ao tentar reagir contra a indisciplina da produção industrial,
através da criação de monopólios, entrou num processo de contradição interna
que jamais se conseguiria libertar.
Embora
as inovações apontadas constituíssem já fundamento bastante para a inauguração
duma nova corrente historiográfica, a verdade é que é apenas a partir de 1929,
com a fundação dos Annales d’Histoire economique et Sociale e graças ao papel
activo e prolongado que esta revista desempenhou no domínio da historiografia,
que verdadeiramente inicia o movimento historiográfico conhecido por História
nova.
Surgida em 1929, a revista Annales não pode deixar de reflectir o estado de espírito da época, mascado pela inquietação e pela expectativa que acompanharam a crise económica.
Numa altura em que as noções de conjuntura e estrutura já se
encontravam suficientemente difundidas para que os historiadores pudessem
continuar a ignorá-los, a crise acabou também, por responsabilizá-los, exigindo
deles uma resposta a seguinte questão: tratar-se-ia afinal duma crise
conjuntural ou duma crise estrutural?
Realidades de média e longa duração, as conjunturas e as estruturas tinham quebrado as fronteiras entre o passado, o presente e o futuro. A história deixava de ser o conhecimento do passado pelo passado, para ser uma História do passado em função duma melhor compreensão do presente e da previsão do futuro.
2.6. Os impactos da Crise da história
Os impactos
da crise da história são múltiplos e podem ser sentidos em diferentes esferas
da sociedade. A crise pode levar a uma série de consequências negativas, como:
- Recessão econômica: a crise pode levar a uma
queda na atividade econômica, com diminuição do consumo, investimento e
produção. Isso pode resultar em aumento do desemprego, da pobreza e da
desigualdade social.
- Instabilidade política: a crise pode levar a
um aumento da instabilidade política, com conflitos sociais, protestos e
até mesmo revoluções.
- Conflitos armados: a crise pode levar a um
aumento dos conflitos armados, com guerras civis, invasões e conflitos
internacionais.
- Mudanças climáticas: a crise pode levar a um
aumento da degradação ambiental e das mudanças climáticas.
No entanto,
a crise também pode levar a uma série de consequências positivas, como:
- Inovação: a crise pode levar a um aumento da
inovação, com o desenvolvimento de novas tecnologias e soluções para
problemas.
- Transformação social: a crise pode levar a
uma transformação social, com mudanças nos valores e na cultura.
- Oportunidades: a crise pode levar a oportunidades para novos negócios e empreendimentos.
2.7.
Surgimento da Escola de Annales
Diante da crise em que a História se
via mergulhada, no início do século XX, começaram a surgir as mais diversas
tentativas para ultrapassar a crise.
Um dos espaços privilegiados para a
apresentação das novas propostas historiográficas foi a revista Annales
d'Histoire Economique et Sociale.
Fundada em 1929, por Marc Bloch e
Lucien Febvre, esta publicação aglutinou parte importante das novas propostas
historiográficas que procuravam dar respostas às exigências de um novo saber
alterando os domínios e métodos de trabalho.
2.8.
A revalorização do papel activo do historiador
Os Annales iniciaram a crítica à noção positivista do facto histórico, bem como å ideia de reduzir o trabalho do historiador à investigação do facto histórico.
Para esta escola historiográfica, o facto histórico não existe senão integrado num certo contexto histórico. Cabe, pois, ao historiador, no meio da enorme gama de material, escolher, por via de uma construção científica do documento: «o facto histórico é uma criação do historiador».
Os Annales esforçam-se por colocar fim
ä passividade dos historiadores perante os factos e, embora sem os exageros dos
historicistas, defendem uma acção mais activa do historiador na construção do
conhecimento histórico. Nesta linha de pensamento, os Annales defenderam a
chamada história-problema. Como diziam: «não só descrever, senão resolver, pelo
menos, colocar problemas».
2.9.
O alargamento do âmbito cronológico da História
A evolução científica em geral e, em
especial, o surgimento das ciências auxiliares da História, permitiram à
História aprimorar os seus métodos e desenvolver novas técnicas e meios de
investigação. Assim, a História aumentava o tipo e número de fontes e, desse
modo, alargava o seu tempo de estudo, ou seja, abarcava épocas muito mais
recuadas no tempo.
O alargamento do âmbito geográfico
Até à década de 1930, a História ocupou-se,
quase exclusivamente, dos povos e nações considerados civilizados - os
europeus. Os outros povos eram apenas referidos na medida em que estiveram em
contacto com os «civilizados».
A proposta historiográfica nos anos 40/50 foi, portanto a de se avançar para uma História Universal, que não se limitasse a ser um desfile de povos que «contribuíram para a civilização». Opunha-se ao eurocentrismo, que caracterizava a História, e propunha uma nova tendência visando a universalidades.
3. CONCLUSÃO:
A nova concepção da história, que surgiu a partir da segunda metade do século XX, representou uma ruptura com a historiografia tradicional. Essa ruptura foi impulsionada por uma série de factores, incluindo o desenvolvimento de novas tecnologias, a crise da modernidade e o surgimento de novos movimentos sociais.
A conclusão que se pode tirar acerca do tema é que a nova concepção da história representou um avanço significativo na compreensão do passado. Ela permitiu uma visão mais complexa e abrangente da história, que leva em consideração os diferentes factores que moldam o processo histórico. Essa nova concepção da história ainda está em desenvolvimento, mas ela já contribuiu para uma compreensão mais justa e inclusiva do passado.
Ela permite que a história seja contada da perspectiva de diferentes grupos sociais, o que contribui para uma compreensão mais completa da história da humanidade. O impacto das novas condições históricas resultantes da primeira e segunda Guerra Mundial, contribuíram para a reformulação da ciência histórica, visto que os princípios da História tradicional eram incapazes de explicar as repercussões dos conflitos mundiais.
Esta crise significou para a História a perca da autonomia do objecto de estudo (Homem) antes exclusivo à História. Constituiu uma série de humilhações tendo contudo perdido a sua credibilidade. Esta crise teve como essência a disputa do Homem como objecto de estudo das ciências em referências.
O capitalismo passa pela sua primeira grande crise de superprodução entre 1873-1895. Mas ao tentar reagir contra a indisciplina da produção industrial, através da criação de monopólios, entrou num processo de contradição interna que jamais se conseguiria libertar.
4. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
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Barbosa, Adérito. Haanstra, Frans. Ibraimo, Mahomed. Laita,
Martins. & Talaquichande,
·
Narame. (2017). A sexta edição das normas APA. (4ª Ed.).
Nampula, Moçambique.
·
Hedges, David (coord.). História de
Moçambique: Moçambique no auge do colonialismo1930-1961. Vol.2, 2.ª edição,
Maputo, Livraria Universitária, Universidade Eduardo.
- Le Goff, Jacques.
(1990). História e memória. São Paulo: Editora da Universidade Estadual
Paulista.
- Pereira, L. B. (2010). História e ideologia.
São Paulo: Contexto.
- Schmidt, André.( 1989).
O que é história? São Paulo: Brasiliense.
- Silva, A. M. (2015). História e ideologia: uma análise crítica. São Paulo: Editora Unesp.
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